quarta-feira, janeiro 31

Chavez, Socialismo e Muerte

Que o povo Venezuelano decida ir na cantiga da revolução Socialista e deite por terra o futuro de gerações é uma infelicidade da história, mais uma lição dolorosa, porventura desnecessária. Vamos é ver como se comportará Chavez relativamente a Cuba nos tempos vindouros, agora que iniciativa e abraços não faltam. É que a morte está à porta, o Socialismo também e Cuba não poderá ser de mais ninguém.

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Os prensípios

A nossa língua é maltratada todos os dias, em público ou em privado, por leigos ou literatos. São várias as pragas que por aí grassam, desde o "de que" por tudo e por nada, ao maciça em vez de massiva, passando pela já velhinha troca do lugar do pronome ("tentei-lhe explicar" Vs. "tentei explicar-lhe"), etc, etc, etc. Como sou picuinhas com essas coisas, não resisto a deitar ocasionalmente algum ácido sobre o tema.

Ultimamente tenho ouvido falar muito dos prensípios. Como só ouvi não tenho certezas sobre a grafia, mas é uma coisa que aparentemente muita gente tem, e muita gente acha que toda a gente devia ter. Não sei, terá alguma coisa a ver com prensas? Será uma espécie de assembleia ou lugar de reunião dos operários das prensas? Prensípio... Ou então um cemitério de prensas, será? Assim só de ouvido não estou a ver. Vou escutar melhor os habitantes deste país, pode ser que entenda.

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A Pertinácia do Quotidiano Político

Parece que anda por aí uma chuva de críticas a Manuel Pinho por este se ter referido a Portugal como tendo algumas vantagens para o investimento chinês, entre as quais salários inferiores à média da União Europeia.

Esta gente que dispara a criticar sem parar para pensar, demonstra no seu ridículo mais cru, que não tem dedos na testa suficientes para distinguir uma afirmação de facto duma intenção. Ou então julga que engana meio país. Termos salários inferiores à média da UE é mau, com certeza, mas é um facto. Não é por Manuel Pinho o dizer a potenciais investidores chineses que essa situação será perpetuada, ou que se possa daí depreender que Manuel Pinho quer que eles assim continuem, esse neo-liberal!

E são estes energúmenos, que fazem da constatação dum facto infeliz um escarcéu, que dominam o panorama da comunicação social Portuguesa em matéria de Política. O que vale é que eu acho que muita gente já os ignora. Oxalá.

Actualização: Manuel Pinho riposta dizendo «Acredito que o PSD e que o CDS-PP e os sindicatos estejam a tentar fazer passar a ideia de que defendi um modelo de salários baixos em Portugal, mas qualquer pessoa minimamente inteligente compreende que não foi isso que fiz», e ainda acusa os partidos da oposição de agirem de má fé, e os sindicatos de serem uma força de atraso no país. Faz bem Manuel Pinho, não se pode ir no jogo da retórica acéfala e inconsequente, sem alcance para além das minudências da linguagem. Desonestidade intelectual combate-se com honestidade e clareza, preto no branco.

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segunda-feira, janeiro 29

Ligações

Este blog não tem links. Digo-o, justificando-me, apenas porque a existência dessas ligações entre blogues é tida, por vezes, como uma questão de etiqueta, e eu não pretendo ferir a harmonia do meio circundante.

Este blog não tem links porque os links são amarras. Nada contra as amarras, mas tudo contra aquelas que permanecem por simples inércia, que aparecem por simples retribuição, ou que não aquecem nem arrefecem.

Prefiro o link ocasional no corpo do artigo, quando a propósito. Mais fluido, mais sincero. Assim este tenderá a ser mais valorizado, e não se prejudica a ambulância da metamorfose. Nas palavras do mestre Palma:

[A] dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

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A retórica e a Quadratura do Círculo

Outro dia reparei nisto. Os três intervenientes da quadratura do círculo correspondem de forma quase cristalina aos três pilares da retórica: ethos, pathos e logos. Lobo Xavier, Jorge Coelho e Pacheco Pereira.

Que nem uma luva, hão-de reparar.

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sexta-feira, janeiro 26

O mito do arguido

A propósito do que se tem passado na CML, e, para dizer a verdade, nos últimos anos em Portugal, não tenho conseguido deixar de reflectir sobre esta aura de culpabilidade que o estatuto de arguido traz, e que leva titulares de cargos públicos a demitirem-se ou serem alvo de exigências de demissão.

Diz-se sempre "sem prejuízo da presunção de inocência..." mas o facto é que o prejuízo está lá. E se a presunção da inocência existe no estado de direito, é por uma razão, a qual não está a ser observada na rua.

Claro que aqueles senhores que são arguidos em processos às dezenas, que tresandam a esturro sobre as suas acções em cargos públicos, deviam ter a decência de se demitir, claro. Mas, e aqueles que são arguidos num processo, sem mais indícios e vêem o seu nome tratado como se fossem réu ou mesmo culpado? É total e absolutamente injusto. É que, convém não esquecer, ser arguido é muito simples, basta que haja uma suspeição de polícias confirmada por um despacho dum juiz, depois de um simples interrogatório (espero não estar em erro).

É bom lembrarmo-nos disto, de vez em quando.

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quinta-feira, janeiro 25

A Imprensa e os rabos de palha

Nada disto é novo, eu sei. Mas devia ser velho. Arcaico, ido, gone.

  1. Expresso, título de notícia: “É incontroverso” que há ‘rabos de palha’ no PS.

    Palavras de João Cravinho:
    Jornalista: O PS tem `rabos de palha´ em matéria de corrupção?
    João Cravinho: Em muitos sectores da opinião pública, com ou sem razão, existe essa percepção. É um facto absolutamente incontroverso.

  2. SIC, Jornal da Noite, título: Sócrates considera propostas de Cravinho "uma asneira".

    Sócrates disse que seriam asneira duas coisas: criar uma nova entidade contra a corrupção e inverter o ónus da prova no caso do enriquecimento ilícito (respondendo a Louçã), e que não eram precisas asneiras para combater a corrupção.

A primeira, é uma citação totalmente indevida, um erro indesculpável, uma desonestidade que valeria cotação zero a qualquer estudante de jornalismo que aquilo fizesse. Aquilo que é um "facto incontroverso" é a existência da percepção na opinião pública, como qualquer alfabetizado percebe. O problema é que muitos alfabetizados apenas lêem as gordas. Eu próprio, quando tenho menos tempo o faço, claro. Gostava era de poder confiar um pouquinho mais naquilo que leio, só isso.

A segunda é mais soft e nem sinto que fira especialmente alguém, mas é sintomática da permanente inclinação para desdenhar o rigor e ceder à trica mesquinha e novelesca, de quem tenta permanentemente semear o caos. Muito embora o pacote Cravinho inclua estas duas propostas, Sócrates apenas se referiu aos dois pontos que lhe parecem ser asneiras. Eu nem gosto do estilo de Sócrates no parlamento, nem estou a defendê-lo (objectivamente não precisa), irritam-me jornalistas pouco rigorosos, só isso.

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segunda-feira, janeiro 22

Tem de Ser, O Aborto

Bom, não me agrada nada esta coisa das questões fracturantes. E também não gosto da palavra fracturante. Não tenho absolutamente problema nenhum em separar as opiniões intelectuais das pessoais; nunca feri uma relação pessoal com discussões e espero que tal nunca venha a acontecer, sobretudo da minha parte. Se calhar é por ser tão cioso dessa harmonia, e ter tanto medo de ser mal entendido, que efectivamente me aborrece falar de coisas que nos dividem. A sério. Mas seja, urge debater algumas questões e o debate tem que ter uma dimensão pública, não pode ficar reduzido às esferas de intimidade segura e confortante. Assim sendo, e sabendo de antemão que vou causar alguns amargos a pessoas que estimo, aqui vai a minha opinião sobre o aborto, o mais resumida possível, que fartos disto já nós andamos.

A questão essencial em todo este debate é, para além das considerações de ordem prática sobre a capacidade do SNS, o financiamento das clínicas de aborto, ou a exequibilidade da actual lei, é a de estabelecer o ponto da gestação a partir do qual se considera que o feto ou embrião é possuidor de vida humana de pleno direito, contra a qual não se pode atentar. A maioria das discussões vem desembocar a esta questão: quando começa a vida humana cujo valor se torna superior ao valor da liberdade da mulher. Eu sei, pode-se discutir infindavelmente as variadas abordagens à temática do aborto, mas concentrar-me-ei aqui apenas neste aspecto, de cariz mais filosófico, do início da vida de pleno direito e das formas aceitáveis de regulação democrática que lhe podem atender, por me parecer aquele em que a minha contribuição faz mais sentido.

Uns acreditam que a vida intra-uterina é, desde a concepção, superior a qualquer direito de escolha da mulher; outros consideram que, durante um certo período, a vida intra-uterina que se desenvolve tem um valor inferior ao valor por eles atribuído à liberdade da mulher (e do homem, se for caso disso). Até aqui nada de especial, apenas opiniões divergentes numa matéria delicada. O problema tem que ver com: 1) as razões que sustentam essas opiniões e 2) os métodos que alguns propõem prosseguir com.

É minha convicção (pelo que observo à minha volta) que a grande maioria daqueles que definem a concepção como o ponto de início da vida de pleno direito o faz com base em orientações dogmáticas de cariz fortemente religioso. Muitos falham em apresentar uma argumentação racional (quanto mais científica) sobre os porquês de considerarem que a vida intra-uterina, desde o momento da concepção, possui características distintamente humanas, ou seja, características que a distingam da vida meramente biológica. É portanto uma escolha pessoal de fé.

As respostas a esta minha crítica de não-racionalidade tendem a fazer um uso, que julgo errado, de dois conceitos filosóficos importantes. O primeiro é o argumento da potencialidade. A vida intra-uterina é uma vida humana de pleno direito em potencial. Com isso todos concordamos, claro que é. É uma vida biológica que, se tudo correr normalmente será uma vida humana plena. Mas (ainda) não é, poderá vir a ser. A potencialidade da coisa e a própria coisa não são o mesmo. Uma criança é um adulto em potencial, mas não o é.

O segundo conceito é o de considerar a coisa não pelo que ela é, mas pelo que ela representa para outros. Concerteza que para todos nós, a visão dum embrião ou dum coração a bater, evoca sentimentos, e é imediatamente facilitada a criação de laços, mas tal não significa que do outro lado se passe o mesmo. Não é por muito amarmos um feto ou embrião que ele nos ama a nós, passa a ter sentimentos (ou consciência, ou sensações) quando não está dotado de quaisquer estruturas cognitivas que o permitam.

Esperando desmontados estes óbices filosóficos, voltemos à escolha de fé. Eu acredito (tenho fé, se quiserem) que muitos dos defensores do Não no referendo admitem sem problemas que a sua escolha é uma escolha de fé. E ainda bem que o fazem, acho que torna o debate mais claro. Como mais claro ficaria se os partidários do Não assumissem que querem impor a sua visão de quando a vida começa aos outros. Não é nem mais nem menos que isso.

É aqui que entram as minhas objecções quanto aos métodos de alguns. É que os partidários do Não, são os únicos que estão a querer impor algo a alguém neste processo. Referi-me aos partidários do Não, e não aos que acreditam na vida humana de pleno direito no momento da concepção, justamente porque, muito embora possamos discordar nas ideias, não temos necessariamente que discordar no método: gostaria de ouvir alguém dizer que, muito embora acredite na vida humana de pleno direito no momento da concepção, vota Sim pela simples razão que não sente que deva obrigar os seus concidadãos a agir de acordo com essa sua crença. Parece-me que estamos todos demasiado habituados a impor coisas uns aos outros.

Votar Sim não impede ninguém de exercer a sua vida de acordo com a sua consciência pessoal sobre quando a vida humana de pleno direito começa, dentro de limites. Entendo que esses limites deverão ter em conta critérios racionais e científicos relevantes para atestar a existência de traços distintivos da vida humana em relação à vida meramente biológica, nomeadamente a existência de dor, sensações, consciência. Acontece que todos esses critérios dão uma margem que até vai para além da que é proposta no referendo. Para lá desse limite, a IVG será crime, como não podia deixar de ser.

Há dois aspectos fundamentais que me levam a repudiar o uso da via democrática (ou qualquer outra) para os propósitos do Não no referendo: o entendimento daquilo que são os poderes do Estado e a defesa categórica da separação entre Estado e religião:

Entendo que os poderes do Estado se cingem à determinação e aplicação das regras de convivência comum, para que todos possamos viver a nossa vida da forma que melhor entendamos, sem prejudicar nem ser prejudicados por outros. Entendo que o Estado não deve ser um instrumento de doutrina, muito menos relativa à moral e costumes, sob pena das democracias degenerarem em ditaduras da maioria em que o poder democrático é usado como mais uma arma (e poderosa) nas disputas entre cidadãos discordantes. Moral e direito, embora relacionadas pela Ética, não são a mesma coisa.

Entendo também que a distinção entre a fé e a razão, em que apenas a última é competente para atender ao debate público, é um legado civilizacional inabdicável. Mais: a separação entre Estado e religião também deve valer na democracia directa. Tal não significa que fé e razão sejam incompatíveis em cada um de nós, como por vezes se depreende das minhas palavras, significa apenas que a fé em si é incompatível com o debate público sobre as leis que regem uma sociedade plural.

Dia 11 voto Sim, por considerar civilizacionalmente abjecto que as concepções apenas sustentadas na fé de uns sejam, pela via democrática ou qualquer outra, impostas a outros. Independentemente de quando, para mim, começar a vida de pleno direito, não reconheço a ninguém o direito de constranger outrem com base numa crença que nada deve ao pensamento crítico, à razão, ao juízo autónomo e livre, mas apenas aos insondáveis mecanismos da fé. Voto para proteger sobretudo as mulheres dessa intolerância pré-iluminista, tristemente presente no Portugal de hoje.

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sexta-feira, janeiro 19

O CDS e o PP

Desde o dia em que Paulo Portas saiu de (boca de) cena, ou melhor, desde que Ribeiro e Castro arrebatou a liderança do partido a Telmo Correia com um pujante discurso, que temos assistido no PP a um chorrilho de birras e contra-birras que só entristecem o espectador e ridicularizam os protagonistas.

Eu até posso entender o descontentamento que a tropelha Portiana tem em relação ao estilo de liderança de Ribeiro e Castro. É fácil de entender, até. O populismo intelectualmente desonesto de uns não rima com a democracia cristã serena e ponderada de outros. A doentia exaltação de preconceitos não joga com a afirmação segura de princípios, sejam eles quais forem. O CDS/PP não é o meu partido, mas se me for dado a escolher uma das facções, não pestanejo.

Até aqui tudo não passaria, como disse, salvo erro Pulido Valente, de facções que acusam facções de serem facções. A gota que faz transbordar o copo são as permanentes ferroadas de meia-noite que o PP insiste em dar ao CDS em praça pública. O recente episódio com Nuno Melo, para não falar nas dezenas que lhe precederam, é bem ilustrativo do nível de educação que existe por aquelas paragens. A educação, para aqueles que a julgam ter e não sabem, também existe para estas coisas. Chamem-lhe espírito democrático, ou o que quiserem.

Paulo Portas, com o seu projecto de dominação e metamorfose do CDS guilhotinado a meio pela pitoresca aventura com o sr. Lopes, arrisca-se agora a ver o seu grupo de fiéis a levar o partido às lonas, o que provavelmente apenas servirá para que possa então re-emergir como seu salvador, fingindo nada ter que ver com a deriva e eventual declínio do partido na sua ausência, enganando a maralha novamente. Esperemos que não.

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terça-feira, janeiro 16

Delícias da Língua

Curioso, agora que a bolsa de valores anda de oferta em oferta pública de aquisição, alguém se lembra do verbo 'opar'?

v. tr.,
tornar volumoso ou balofo;
fazer intumescer.

Que potencial trocadilhesco, meu deus.

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sábado, janeiro 6

O crédito é fácil, a responsabilidade difícil

Ontem ia para casa depois de uma noite de trabalho e fui a ouvir um programa da TSF, Com a Corda na Garganta que relatava várias estórias e testemunhos relacionados com o sobre-endividamento. Os relatos assumiam diferentes perspectivas, desde o jurista que presta aconselhamento, ao endividado propriamente dito.

Não querendo atingir o programa em si, que do ponto de vista jornalístico pareceu-me bastante correcto e isento de tese, limitando-se a relatar de forma mais ou menos fiel a realidade, fiquei absolutamente abismado com a desresponsabilização individual que a maioria dos intervenientes parecia pactuar com. Como se não fosse da responsabilidade de cada um o seu sustento e a escolha das responsabilidades financeiras.

Um senhor, que trabalhava desde os 11 anos queixava-se que agora o empregador o tinha colocado numa situação em que ganhava menos (havia menos trabalho) e mal conseguia pagar o empréstimo duma casa que entretanto tinha adquirido a crédito. Outra senhora, já reformada, queixava-se que por culpa dos empréstimos que tinha contraído para terminar a casa do seus sonhos já não lhe sobrava dinheiro nem para o creme para a cara. Os exemplos eram mais que muitos (ouçam o programa), ainda fiquei a ouvir os relatos durante uns bons quilómetros. O traço comum entre todos eles que me ficou foi o de todos falharem em reconhecer que a culpa não andava por aí... era tão somente deles.

Eu sei que a literacia financeira é quase nula, mas há coisas que se não são óbvias, deviam ser. Devia ensinar-se na escola, no autocarro, nos centros de dia, nas casas de banho, desde que se ensine. Contratou um empréstimo para comprar uma casa e viu os seus rendimentos reduzir? Então, arrende a casa a alguém (ela que se pague sozinha), e vá viver para um apartamento mais barato, ou arrende quartos a estudantes, ou qualquer coisa. Mexa-se! Queria a casa do seus sonhos mas não tem dinheiro para isso? Então tenha calma. Honra seja feita à senhora que no final disse ter aprendido a lição, de forma até bastante radical: "Crédito nunca mais". Não acho que seja preciso tanto, basta bom senso.

Ou sou eu que novamente exijo demais das pessoas?...

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