O Retorno, Informático dixit
Recuperei o portátil que tinha perdido há uns meses quando me assaltaram o carro.
Tudo começou com um telefonema:
— sr. Vasco Figueira?
— Sim, sim...?
— O sr. tem algum portátil a arranjar na PC Clinic?
— Não...
— O sr. perdeu algum portátil nos últimos tempos?
— Sim!...
Comecei logo a ver "o filme todo". Eu, sábio e experiente informático, tinha configurado a BIOS do computador para pedir a password assim que o mesmo se liga. É a primeira coisa que acontece, sem ela não se faz absolutamente nada. Nas opções desse ecran que pede a password, podemos incluir um pequeno texto. Escolhi ali escrever o meu nome, nº de telefone e endereço de e-mail, numa — em mim habitual — manifestação de crença na (ainda que residual) bondade humana. Lírico, chegaram a chamar-me. Habituado, nem liguei.
Pois bem, parece que, por portas e travessas, o portátil que tinha saído da bagageira do meu assaltado carro, fora parar às mãos dum qualquer receptador, que — imagino — terá pago pouco por um computador a "pegar ou largar", o qual, chegados a casa, se terá demonstrado fiel ao dono e irredutível na requisição da dita password. A julgar pelas marcas deixadas, o duelo ter-se-á prolongado por várias tentativas de violação, abertura de entranhas, retirada total da energia (a versão electrónica da asfixia?) as quais se revelaram invariavelmente infrutíferas, graças à tecnologia da Toshiba. Vergado ante tão nobre carácter do meu incorruptível computador, terá o escroque pensado que a sua única alternativa seria mandar o dito às instâncias oficiais, e pedir inocentemente a retirada do "pequeno entrave" que seria a password. Arriscado, é certo, mas "perdido por cem, perdido por mil", terá pensado.
Acontece que o funcionário que recebeu o portátil cuja única maleita era uma password que teimava em não transigir e por isso deveria ser removida, achou por bem ligar para o nº de telefone que ali aparecia como sendo do proprietário. Fez bem. Consultou também a base de dados de portáteis roubados da Toshiba onde verificou que efectivamente dela constava o nº de série do aparelho em causa, diligentemente lá colocado pelo sábio e experiente informático, legítimo proprietário, com a data do furto e tudo.
Assim que me ligou e percebemos em que filme estávamos metidos, logo conversámos sobre como resolver a situação. Posteriormente falei com o gerente, que me pediu para aguardar uns dias para falar com a Toshiba, que precisava de fazer algumas verificações relativas à dita base de dados que era na Alemanha e não-sei-quê... Não sem antes me garantir que dali o portátil só sairia para as minhas mãos.
A verdade é que os dias se foram arrastando, e nem a Toshiba (que havia prometido ao gerente da loja ligar-me ASAP) me ligava, nem o gerente abdicava da "autorização" da Toshiba para me devolver o portátil. Alarmado com o curso dos eventos, comecei a preocupar-me, tendo inclusivamente planeado ligar para o meu advogado e tratar de exigir a imediata entrega daquilo que era, para todos os efeitos, minha propriedade na posse de terceiros, ilegitimamente.
Felizmente não foi preciso, no dia seguinte a situação desbloqueou-se sem que se tenha percebido ou que é que em primeiro lugar a bloqueou. Mistérios que não me deixaram com boa impressão da Toshiba Portugal. A entrega do portátil processou-se numa sexta-feira de manhã, como combinado: acompanhado da PSP, que testemunhou todo o acto, identifiquei-me, fiz prova de compra do portátil (ainda tinha a factura) e inseri a password à frente de todos os presentes. Assinei um documento em como tinha recolhido o meu portátil e fui à minha vida, que daquela aventura já estava farto.
Quanto ao receptador, não sei de nada, nem, sinceramente, tenho pachorra para tentar saber. Sei que não lhe disseram nada enquanto ainda tinham o portátil, e julgo que terá sido informado da situação depois, quando lá terá passado a saber do seu pedido. Sei que a polícia pediu à loja para informarem a esquadra assim que o dito sr. aparecesse, mas desconheço se alguma diligência foi tomada no sentido de apurar eventuais ilícitos criminais praticados por ele ou outros com ele relacionados. Espero que sim, até porque ao que parece, tinham a morada do alegado receptador.
Quanto a mim, casa arrombada, trancas à porta: tratei de fazer rapidamente os backups que não tinha feito, actualizei o software, e sarei algumas feridas deixadas pela aventura. É verdade: o bom filho a casa torna.
Etiquetas: episódios
3 Comentários:
faltava a histórinha! boa boa!
pois eh!!! sabs k o pessoal da amadora e sp a róbar!!!!
sim, o catártico "tudo está bem quando acaba bem"!
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