As Urgências do Povo
Enquanto lanchava estive a ver um pouco do Opinião Pública, na SIC. Vivemos num país de cheio duma sobressaltada indigência mental. Não é a surpresa que deprime, é a relembrança.
O que eu acho:
- O Ministro Correia de Campos tem de facto uma forma de falar politicamente desastrada. Aquela espécie de graçola sobre os números da sinistralidade rodoviária é erro de palmatória - um político não diz graçolas à comunicação social, ponto final. É um convite ao desastre. Já sabemos que a selva mediática é acéfala, não a provoquemos.
- A qualidade ou a prudência da oralidade de Correia da Campos não é argumento relevante para a discussão da reformulação das urgências. É um aspecto de carácter estético, que pode importar, no máximo, para considerações eleitoralistas.
- Não acho que a medida tenha sido mal explicada. Começou a falar-se nisso há já bastante tempo, e, na altura das maternidades, já se antevia a reedição da novela, com as urgências. Havia uma comissão a estudar, ia apresentar o estudo e esse mesmo estudo foi apresentado numa conferência de imprensa (se não me engano), e as suas conclusões, gráficos e demais dados foram apresentados pela comunicação social. O estudo é público. Eu vi na televisão os gráficos. Mais: o ministério tem a funcionar na internet um site justamente para esse efeito. Que quem não vê telejornais não conheça, entende-se (e há aí margem para melhorar o conhecimento público das medidas), mas o problema não está no Ministro, ou no governo, que pelos vistos anda a falhar na sua propaganda.
- Os autarcas afectados (que os há) portaram-se mal. Sabiam o que aí vinha, tinham reunido com o ministro, e (partindo do pressuposto que entendem que há medidas boas que ainda assim têm prejudicados) não se limitaram a fazer "um bocadinho de barulho" para tentar ficar "ao lado" da população, não: organizaram manifestações de protesto. E depois o mau da fita é Correia de Campos por dizer que olhará para eles de outro modo depois disso. Porque não atende aos apelos dos "legítimos representantes" das populações, como se não fossem ambos, governo e autarquias, eleitos pelo mesmo povo, para patamares diferentes por vezes divergentes. Haja decência.
- A imprensa anda um pouco confusa sobre o que terá acontecido entre Sócrates e Correia de Campos. Que Sócrates tenha querido intervir politicamente, faz sentido. As manifestações foram relevantes e impõe-se uma voz mais autoritária e mais simples, directa, assertiva que a de Correia de Campos. Não pode (ou não deve) no entanto acontecer um recuo, uma cedência à contestação infundada, face às conclusões do estudo. Isso seria um muito mau sinal, um péssimo precedente.
Acho sinceramente que o que realmente urge é um pouquinho mais de racionalidade e honestidade intelectual.
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